quinta-feira, 1 de novembro de 2007

AS PERGUNTAS DO BEBÊ
A mãe humana ficou deveras surpresa ao ver chegar um anjo quando estava lavando a roupa. - O que faz aqui?! - Esperava que eu aparecesse na cozinha? – perguntou o anjo. - Não. Não lhe esperava em absoluto – respondeu a mãe. - Por que está aqui? - Para conceder o seu pedido – disse o anjo, como se fosse muito normal aparecer na casa de um humano. - Não me lembro de ter feito algum pedido – exclamou a mãe. - Espero ter pedido algo de bom e que não tenha me ouvido blasfemando. Digo de tudo quando estou chateada. - Não, não – respondeu o anjo. - Lembra quando olhou para o seu filho nos olhos e murmurou: “Ah! Se pudéssemos conversar!”. Bom, estou aqui para organizar isto. Amanhã à noite, quando for ao quarto do seu filho, eu também estarei lá para que possam conversar um com o outro. Disporão de um curto período, durante o qual ele poderá lhe falar com o intelecto e a linguagem de um adulto. Nessa altura, darei mais pormenores. E, com estas palavras, o anjo desapareceu por um respiradouro, à esquerda da secadora, em um ralo. A mãe não estava assustada. Ao fim e ao cabo, acreditava em anjos e, por várias vezes, tinha estado na loja dos anjos do seu bairro. Não podia saber, porém, que os verdadeiros anjos não gostam das lojas de anjos. Toda essa popularidade tinha acabado com a diversão de aparecerem para as pessoas. Algumas mães, inclusive, queriam saber onde é que o anjo tinha ido buscar o que vestia, algo realmente insultante para um anjo verdadeiro! A mãe não dormiu muito naquela noite, e quando foi deitar o seu bebê de seis meses, olhou-o fixamente nos olhos e disse: - Amanhã, vamos poder conversar! Estava deveras emocionada. E o bebê, como resposta, babou-se. Pensava cuidadosamente no que iria lhe dizer. Por onde começar? De quanto tempo iria dispor? Como poderia lhe comunicar as coisas difíceis da vida? Começou a pensar em tudo o que pretendia dizer a uma criança que estava iniciando a sua vida, sobre como é perigoso o fogão ou como o belo fogo pode queimar. Mas… um momento! O anjo tinha dito que a criança falaria com a mente de um adulto. Este detalhe mudava tudo! Assim sendo, tinha que explicar como lidar com as moças e o que fazer com um coração partido; tinha que dizer que não deveria confiar em todas as pessoas, e que não deveria tirar conclusões precipitadamente. Por favor!... Havia tanto para lhe contar sobre um ser humano! Na tarde seguinte, a hora da conversa mágica aproximava-se lentamente. Esperou a hora marcada ao lado do filho, no quarto dele. Então, o anjo voltou a aparecer. - Estou encantado por ver ambos – disse o anjo rapidamente. - Estas são as regras da conversação: Mãe: você só pode responder; filho, você só pode fazer três perguntas. Depois, acabou-se. E, após estas palavras, desapareceu – desta vez através da chaminé. Isto altera tudo, pensou a mãe em silêncio, enquanto observava o filho. Talvez esteja com visões. Estou certa de que agora o meu filho simplesmente vai dormir. A criança, porém, pôs-se de pé! - Mãe – disse o filho - este é, verdadeiramente, um dia mágico. Que alegria poder falar consigo nesta altura da minha vida. A mãe levantou-se, espantada, com a boca aberta de surpresa. Bom, ela até babava, ligeiramente. - Só posso fazer três perguntas – prosseguiu a criança de dentro do berço. - Mas há tanta coisa que gostaria de saber! Enquanto a criança pensava na primeira pergunta, a mãe sentia-se completamente envolvida com a situação. Isto é real, pensou. O meu filho está falando comigo como se fosse um adulto. Que milagre! Que dom! E não podia conter a impaciência em relação à primeira pergunta que o filho ia fazer. Seria sobre filosofia ou religião? Talvez quisesse saber o melhor conselho para escolher uma boa carreira, ou talvez quisesse saber como escolher a melhor companheira, uma mulher que ficasse com ele durante mais tempo do que o pai dele tinha ficado com ela mesma. Então, o filho olhou-a nos olhos e fez a primeira pergunta: - Mãe, estive deitado lá fora e fiquei maravilhado com o céu. Por que é azul? A mãe teve que fazer um esforço enorme para não gritar: “Desperdiçou a primeira pergunta! Quem é que se interessa em saber por que o céu é azul?!” Todavia, gostava tanto do filho que, respeitando as regras do jogo, respondeu pacientemente a pergunta. Explicou como a atmosfera e as moléculas de oxigênio refletem a luz do sol e fazem com que o céu se torne azul – ou, pelo menos, era o que acreditava. De qualquer modo, a coisa soava bem. Esperava agora pela próxima pergunta, com ansiedade. Esta tinha que ser melhor, pensava. Talvez o filho quisesse saber o que teria de fazer com a sua vida para não acabar como um “sem teto” e com amigos delinqüentes. - Mãe, a minha segunda pergunta é esta: Ainda que só esteja aqui há seis meses, percebi que, lá fora, algumas vezes faz calor e outras vezes faz frio. Por quê? A mãe não podia acreditar. Outra pergunta desperdiçada com disparates! Como era possível, perguntava-se. Mas o seu filho era inocente e esperto. Por isso, a sua pergunta devia ser importante para ele, e ela apreciava este tempo mágico de que dispunham para estarem juntos. Lentamente, tentou falar sobre a Terra e o Sol, e de como a Terra se inclina ligeiramente enquanto gira em volta do Sol, causando assim o verão e o inverno, o frio e o calor. Finalmente, chegou o momento da última pergunta. Já tinha passado quase meia hora e… tinham se comunicado tão pouco. - Mãe, gosto muito de você – exclamou o filho. - Mas, como sei que é, de fato, a minha mãe? Tem alguma prova? Que pergunta era esta? De onde vinha aquilo? Quem, senão ela, poderia ser a sua mãe? Acaso não tinha se dedicado a ele em todos os dias da sua vida?... Esta sessão tinha sido uma decepção total. Quase queria sair dali e voltar para junto da máquina de lavar, onde tudo tinha começado. Pensou que empurraria o anjo para dentro da secadora, na próxima vez que o visse. O seu filho, todavia, com os olhos inocentes abertos e despertos, esperava pela sua resposta. Então, começou a chorar, mas estendeu as mãos e disse: - Olha para os meus dedos; são como os seus. O meu rosto e os meus pés são como os seus. As minhas expressões de amor e alegria são como as suas. Sou, realmente, a sua mãe. Temos os mesmos olhos e a mesma boca. Repara! E, desta forma, a criança, ficou satisfeita. Voltou a deitar-se na cama e adormeceu. Mas, afinal, o que era isto? O milagre da comunicação começou e acabou, e a mãe não tivera uma conversa significativa com o seu lindo filho. O que aconteceu? O que tinha saído mal? Passou imenso tempo pensando nisto, lamentando-se da forma como a coisa aconteceu sem que tivesse transferido alguma informação substancial. Então, o anjo reapareceu… através do ralo do banheiro! - Vai embora! – desabafou a mãe, antes que o anjo pudesse dizer algo.- Que desilusão tive consigo! - Concedi-lhe o tempo combinado – disse o anjo amavelmente. – Eu não escolhi as perguntas. - E de que me valeu isso? Por que é que o meu filho não perguntou sobre algum tema importante? Disse que ele teria a mentalidade de um adulto, mas fez perguntas de uma criança. Enganou-me com o seu famoso milagre. - Querida – replicou o anjo – apesar do seu filho ter recebido a linguagem e o intelecto de um adulto, somente tinha a sabedoria e a experiência dos seis meses que está na Terra. As suas perguntas foram, pois, as melhores que podia imaginar, e você respondeu todas elas. Inclusive a última, que encarou com medo, também respondeu corretamente. Além disso, transmitiu-lhe o seu amor enquanto estiveram juntos, e não foi impaciente com ele. Ele fez o melhor que pôde e foi honesto. O que mais pode pedir? A mãe sentou-se. Não tinha visto a coisa sob esta perspectiva. O seu filho fizera as melhores perguntas de que fora capaz. Como poderia ele saber o que devia pensar se não possuía o conhecimento que ela tinha? E, se tivesse recebido esse conhecimento, não teria necessidade de perguntar nada! Sem mais comunicação, o anjo partiu pela última vez… desta vez saindo pela janela. A mãe regressou ao quarto e ali ficou admirando o seu filho maravilhoso. - Fez o melhor que podia, filho – disse com voz tranqüila. - Foi bom que pudemos conversar. Fonte: Livro IV – Parábolas de Kryon

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